Luto na relação amorosa
Neste artigo vamos falar sobre alguns modelos do luto e perceber como evolui o luto ao longo do tempo após o fim de uma relação amorosa.
SAÚDE MENTALLUTO NA RELAÇÃOPSICOLOGIA
1. Como é que o luto do fim de uma relação amorosa evolui ao longo do tempo?
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O luto resultante do fim de uma relação amorosa corresponde a um processo que integra um conjunto de reações emocionais, físicas, comportamentais e sociais.
Segundo Kubler-Ross (1981) o processo de luto envolve a passagem por diferentes fases: Negação, Raiva, Procura, Tristeza, Aceitação. Apesar de parecer existir uma sequência nestas fases, estas não se movimentam necessariamente numa linha de sequêncial, podendo a pessoa, dependendo da sua vivência, regressar a fases em que já esteve.
Negação:
Marca o início de um processo de luto. O choque relativo ao término da relação é tão grande que a pessoa não aceita esta perda (conscientemente ou insconscientemente). Muitas vezes traduz-se na dificuldade em falar sobre o fim da relação, sonhar que regressa à relação, não admitir que este fim está a ser doloroso como na realidade está ou não acreditar por alguma razão que a relação terminou.
Raiva:
A raiva surge muitas vezes da falta de controlo sobre este fim da relação, da zanga com a outra pessoa por ter deixado de lutar pela relação, ou perceber que a outra pessoa está a envolver-se em atividades com outras pessoas que não se envolvia durante a relação, ou a percepção de que a pessoa não foi tratada como devia ter sido em várias fases da relação.
Procura:
Esta fase corresponde à procura ativa de uma reconexão com a pessoa. É uma fase muito aflitiva e desesperante em que ainda sem aceitar a perda procuramos restabelecer contacto com a pessoa perdida. Muitas vezes traduz-se na procura da pessoa nas redes sociais (ver se está online, pensar se estará a falar com alguém, esperar ansiosamente por uma mensagem, visualizar as suas postagens), no envio de mensagens, na convicção de que a pessoa poderá mudar de ideias.
Tristeza:
Corresponde à fase em que há uma percepção de que todas as tentativas de contacto com a pessoa perdida não a fazem regressar à relação. Deste modo surge o sofrimento, uma sensação de desespero, tristeza profunda e o vazio.
Aceitação:
A aceitação da realidade da perda corresponde ao finalizar do luto. Nesta fase, é possível recordar a pessoa sem uma acentuada ativação emocional, começamos a reinvestir nas interações sociais, e temos expetativas positivas para o nosso futuro. Podemos recordá-la ou falar sobre ela com carinho e paz sem remorsos associados.
Além destas fases ainda existem desafios que precisam de ser alcançados no momento do luto. São eles:
A aceitação da realidade da perda;
A expressão e processamento da dor -
A adaptação à nova realidade sem a pessoa perdida - Uma parte muito importante de todo este processo é a dolorosa adaptação à realidade sem a pessoa perdida. As pessoas têm funções muito específicas na nossa vida e fazem parte dela de uma forma em que a sua substituição é sentida como impossível. Por isso, a adaptação à realidade sem esta pessoa é extremamente dolorosa porque envolve envolvermo-nos nas rotinas do dia-a-dia em que ela participava e que infelizmente já não está, ou na criação de novos rituais para colmatar esta perda.
Acertar os laços com a pessoa que se perdeu - este desafio deve-se à necessidade que muitas vezes temos de dizer à pessoa que perdemos, aquilo que faltou dizer, ou pedir desculpa por algo que falhou da nossa parte ou ainda, em que casos em que a pessoa nos falhou a nós, e não houve tempo para resolver o conflito antes da sua partida, perdoarmos e tentarmos chegar a emoções de maior paz de forma a que o luto se possa desenrolar mais saudável possível. O acertar laços é algo muito delicado e que precisa de tempo e por vezes de apoio terapêutico.
2. O que me pode fazer adiar o luto desta relação?
Existem várias razões que nos fazem ter muita dificuldade em deixar de sofrer pelo fim da relação:
Evitarmos sentir a dor - Para que possamos seguir em frente precisamos de nos permitir a sentir dor física, bem como dor emocional e comportamental associadas à perda, pelo que tudo o que permitir ao enlutado evitar ou suprimir essa dor irá muito provavelmente prolongar o processo de luto.
Existem muitas formas de evitarmos estas emoções dolorosas como através de:
mecanismos de defesa de desligamento emocional, negação ou evitamento;
Esperar que a pessoa mude de ideias - muitas vezes acreditamos na possibilidade de que a pessoa pode mudar de ideias, ou porque a razão do término da relação não é muito clara (a pessoa não disse que deixou de ter sentimentos, ou não foi infiel) ou porque sabemos que a pessoa está a passar por um período difícil seja a nível de saúde mental ou noutros contextos (familiar, profissional etc...) ou porque a pessoa mudou a forma como era conosco e há a esperança que volte ao que era. E por isso decidimos esperar que a pessoa decida regressa à relação. O que é muito válido tomarmos esta decisão!!!! Contudo, esperar de forma prolongada é também uma forma de nos impedir de prosseguir com a nossa vida baseada numa ideia que nem sempre é evidenciada que irá acontecer.
Não admitirmos a nós próprios que esta perda tem sido mesmo difícil - Por vezes, para nos protegermos não admitimos que este fim da relação é mais doloroso do que temos demonstrado a nós e à nossa rede de suporte. Temos receio das consequências para os vários contextos da nossa vida ao nos permitirmos sentir esta dor. Contudo, esta estratégia a longo termo torna-se muito pesada e falível. Esta dor precisa de ser processada e para isso, tem de ser sentida.
Manter a crença de que nunca nos vamos apaixonar novamente ou que sem aquela pessoa nunca voltaremos a sentir como nos sentimos - Esta é uma crença muito complexa e comum que está muito ligada ao que a pessoa com quem estivemos representa e simboliza para nós. Contudo o não acreditar que vamos sentir algo parecido ou até melhor com outra pessoa de forma prolongada pode emocionalmente impedir-nos de estarmos disponíveis para descobrir e explorar essas emoções com outras pessoas.
3. Como me posso sentir melhor após o término de uma relação?
O término de uma relação pode ser sentido de diferentes formas, e depende de vários fatores como: a longevidade da relação, o que é que esta pessoa representa para nós e de que forma está envolvida na nossa vida, como é que este fim de relação aconteceu (traição, conflito, mútuo acordo), se a pessoa enlutada tem pessoas à sua volta que forneçam apoio emocional ou não.
Algumas sugestões que podemos dar são:
Sai com pessoas amigas que te façam sentir feliz e te tragam segurança;
Sente-te livre para falares como te tens sentido seja no teu dia-a-dia seja porque viste ou soubeste algo da pessoa com quem estiveste que te magoou.
Volta às tuas rotinas de forma gradual e reforça atividades fora da rotina que te façam sentir bem (desporto, viagens, caminhadas, atividades como pintura)
Se após um ano ainda te sentires num sofrimento muito grande, terapia poderá ser importante para te ajudar a compreenderes o que poderá estar a prolongar este luto.
4. Como sei se já ultrapassei a minha relação?
Não existem fórmulas mágicas sobre como ultrapassar ou sobre se já ultrapassaste a relação, mas existem alguns sinais que poderão querer dizer que estás a conseguir seguir em frente com a tua vida, tais como:
Não sentes mais a necessidade de procurar a pessoa nas redes sociais ou necessidade de a contactar.
Não te sentes triste quando alguém menciona a pessoa.
Sentes-te em paz e não sentes mais emoções como mágoa, raiva ou zanga por causa do teu término.
Consegues imaginar-te e sentes-te disponível para explorar outras relações com outras pessoas.
Tens a capacidade de falar sobre a relação com outras pessoas sem sentires emoções intensas.
Consegues compreender e aceitar o que falhou na relação sem negares a importância da pessoa nessa altura da tua vida, e os momentos bons que viveram.
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